Quando em 1981 o milionário francês Jean-Luc Lagardére se juntou a Daniel Filipachi para comprar o espólio do grupo de revista Hachete, brincou com os amigos comentando que só lhe faltava mesmo comprar um clube de futebol. O homem que relançou a revista Elle era já então dono de uma imensa fortuna, graças à sua posição na empresa Matra (com considerável sucesso no automobilismo). Por essa altura, gastava essencialmente o seu dinheiro na grande paixão da sua vida, os cavalos de corrida. Mas o futebol também lhe tocava na alma e na cidade-luz de Paris não havia uma equipa que apoiar. OPSG vivia a sua primeira década, rodeado de incertezas, e a ideia começou a matutar na mente do empresário. Quatro anos depois comprou o quase extintoRacing Club Paris, um dos primeiros grandes do futebol gaulês que tinha caido praticamente no anonimato nos anos do pós-guerra. O clube estava na Ligue 2, lutando por sobreviver. Lagardére colocou o dinheiro à disposição da direcção com um objectivo claro: fazer do Racing um colosso europeu.
Começou assim a subida ao céu do clube azul e branco. O presidente conseguiu o apoio da Matra e mudou oficialmente o nome do clube para Matra Racing Club, o primeiro caso de uma instituição desportiva europeia que viu o seu nome alterado para incluir uma designação comercial. O projecto, no entanto, começou a dar os seus frutos. Em 1986 o clube venceu o titulo da segunda divisão do futebol francês e chegou, pela primeira vez em largas décadas, à elite. Era preciso dinheiro para permitir ao Matra - então alvo de uma imensa campanha de marketing nas revistas e jornais do grupo Hachette - competir com os maiores da época (o Bordeaux de Jacquet, o Marseille de Goethels ou o Monaco de Wenger).
Apoiado no investimento da matra começaram a chegar grandes estrelas; recém-coroado campeão europeu, o português Artur Jorge foi o primeiro a ser seduzido pela ambição de Lagardére.
Trocou a cidade do Porto pelo conforto de uma vida de luxo em Paris com um recorde milionário para qualquer treinador à época. O objectivo era vencer a prova que o tinha coroado num prazo de quatro anos e para tal chegaram ao modesto Stade des Colombes, nomes à altura. O alemão Piere Litbarski e o uruguaio Enzo Francescoli juntaram-se aos gauleses Pascal Olmeta, Luis Fernandez ou um jovem David Ginola. Mais tarde chegariam ainda o holandês Sonny Silooy, o uruguaio Ruben Paz e o camaronês Eugene Ekéké.
Artur Jorge pediu tempo para formar um time ganhador - ainda estavamos no tempo em que só podiam jogar três estrangeiros - mas os resultados demoraram muito para chegar . A meio da temporada 1987/1988, o Racing Matra andava perdido na segunda metade da tabela, apesar do talento indiscutivel dos seus jogadores, particularmente Francescoli, que confirmou as suspeitas que tinha deixado ao serviço da selecção do Uruguai e que mais tarde inspiraria a Zidane. A segunda volta foi bastante melhor, com a equipa a subir até ao sétimo posto mas, mesmo assim, fora das competições europeias e a onze pontos do primeiro lugar. O dinheiro de Lagardére começou a desaparecer e os ingressos das bilheteiras do diminuto estádio parisiano (7 mil pessoas) e do contracto televisivo eram insuficientes para arcar com os salários principescos das principais estrelas. Artur Jorge partiu (ele que voltaria a Paris para cumprir o seu sonho de campeão com o PSG dois anos depois) e o director desportivo, René Hause, tomou o seu lugar. Mas sem dinheiro, também Francescoli e Littbarski se foram, para brilhar em Marselha e Colónia, respectivamente. E a equipa ressentiu-se em demasia. O projecto começou a desmoronar-se e a equipa terminou a época seguinte num decepcionante 17º posto, salvando-se por um golo da despromoção. Para a Matra e para o seu presidente, era demais. Lagardére demitiu-se, vendeu a sua parte do clube e levou a Matra consigo, deixando o clube em estado de bancarrota. Os melhores jogadores da equipa saltaram do navio em movimento e apesar de ter chegado à sua única final da Taça em 1990, rapidamente a equipa caiu nos escalões do futebol amador francês, onde ainda milita. O dinheiro de Lagardére foi desviado para a France-Galop, empresa especializada em desportos hipicos e nunca mais se aventurou no mundo do futebol.
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